O homem expele pela urina grandes quantidades de sais de cálcio, ácido úrico, fosfatos, oxalatos, cistina e, eventualmente, outras substâncias. Em algumas condições a urina fica saturada desses cristais e como conseqüência formam-se cálculos. Não é um fenômeno raro até a idade de 70 anos. Aproximadamente 12% dos homens e 5% das mulheres podem ter, pelo menos, um cálculo durante suas vidas. A primeira década da vida não está imune ao surgimento de cálculos, havendo um pico de incidência entre quatro e sete anos de idade. A doença é mais comum no adulto jovem, em torno da 3 ª ou 4 ª década de vida, predominando na raça branca.
A formação de cálculos é um processo biológico complexo, ainda pouco conhecido, apesar dos consideráveis avanços já realizados. Hoje, constata-se que mudanças nos regimes alimentares, promovidas pela industrialização dos alimentos, mais ricos em proteínas, sal e hidratos de carbono, aumentaram a formação de cálculos. As anormalidades da composição urinária têm, no volume urinário diminuído, o principal fator na formação de cálculos. Fruto de uma hidratação inadequada, esta pode ser a única alteração encontrada em alguns portadores de litíase. O volume urinário permanentemente inferior a 1 litro ocorre por maus hábitos alimentares ou por situações ambientais como clima muito seco, atividades profissionais em ambientes secos (aviões, altos fornos) que favorecem a supersaturação urinária de sais formadores de cálculos.
Os cálculos são formados nos rins. aproximadamente 80% dos cálculos urinários contém cálcio na sua composição primária, mais comumente oxalato de cálcio e com menor frequência fosfato de cálcio. Os demais cálculos são compostos por ácido úrico, estruvita(fosfato de amônio magnesiano) e cistina. Um mesmo paciente pode ter mais de um tipo de cálculo concomitantemente.
A litíase pode ser assintomática, reconhecida somente em exames ocasionais. Na maioria das vezes, a litíase se apresenta com manifestação de dor (cólica) e hematúria(sangue na urina). Muitas vezes, os cálculos podem obstruir a via urinária. É o que ocorre quando o cálculo se desloca do rim para o ureter(canal estreito que leva a urina do rim para a bexiga). A cólica renal é o sintoma agudo de dor severa, que pode requerer tratamento com analgésicos potentes. Geralmente, a cólica está associada a náuseas, vômitos, agitação. A cólica inicia quase sempre na região lombar, irradiando-se para a fossa ilíaca, testículos e vagina. No sedimento urinário, pode-se observar hematúria que, com a dor em cólica, nos permite pensar na passagem de um cálculo.
A investigação clínica, na fase aguda, inclui além do exame comum de urina, um RX simples de abdômen e uma ecografia abdominal. No caso de dúvidas diagnósticas, ou para melhor programação cirúrgica, lança-se mão de métodos com mais acurácia (urografia excretora, tomografia ou ressonância). A tomografia helicoidal, sem contraste, é o método diagnóstico com maior sensibilidade e especificidade, sendo considerado atualmente o método padrão para avaliação da litíase urinária. A ressonância ficaria reservada para as gestantes devido o risco de radiação.
O tratamento do cálculo renal é um dos melhores exemplos da aplicação da evolução tecnológica na medicina. Há algumas décadas as cirurgias convencionais por lombotomia (cirurgias com corte) foram substituídas pelas cirurgias chamadas minimamente invasivas. Dentre elas destaca-se a litotripsia externa por ondas de choque(bombardeio externo) e as cirurgias que utilizam os orifícios naturais (via uretral e ureteral) para acessar os cálculos. Para os cálculos muito grandes (>2cm) utiliza-se a técnica percutânea em que os cálculos são acessados com pequena incisão (2-3cm) , e são fragmentados e aspirados ao mesmo tempo.
Existem quatro tipos de aparelhos utilizados durante a fragmentação dos cálculos, citados a seguir na ordem de recomendação: holmium-yag laser, peumático, ultrasônico e eletro-hidráulico. Atualmente a fragmentação com holmium –yag laser tornou-se muito difundida em nosso meio, podendo ser utilizada em qualquer tipo de cálculo, e suas fibras de fino calibre que permitem utilização de endoscópios muito finos,além de profundidade de penetração curta(1mm), evitando lesões nos órgãos.A fonte de energia mais potente para fragmentação dos cálculos é o LASER. Diz-se que “Não há cálculo duro para o laser”. Uma vantagem desta fonte de energia é que o cálculo é fragmentado sob visão direta, isto é, o cirurgião acompanha durante o procedimento a completa fragmentação do cálculo, ou sua fragmentação em pequenos fragmentos ,de fácil eliminação. O LASER é mais utilizado no tratamento dos cálculos renais de 10-20mm, em cálculos refratários à litotripsia extracorpórea, e em pacientes com coagulopatias(sangram com facilidade). A taxa de sucesso (livre de cálculos) vai depender da quantidade de cálculos, e de seu volume, mas pode chegar a 96,7%. A litotripsia externa por ondas de choque (leco), apesar de ser a menos invasiva dos métodos terapêuticos, atualmente fica reservada aos cálculos menores (<1cm), e de menor densidade (mais moles).
Em resumo , a decisão de qual técnica terapêutica será utilizada vai depender de uma série de fatores: localização do cálculo (rim, ureter, bexiga), tamanho do cálculo, dureza do mesmo, presença de anomalias congênitas do trato urinário, co-morbidades do paciente(obesidade, hipertensão,cardiopatia,coagulopatias,etc), disponibilidade dos equipamentos nos hospitais, e custos, pois os valores variam de acordo com os equipamentos utilizados.
A recorrência é mais comum no adulto jovem, 15% em um ano, 40% em até 5 anos e 50% em até 10 anos. História prévia de litíase, história familiar, e algumas doenças metabólicas(ex. hiperfuncionamento da glândula paratireóide) , estariam associados a maiores taxas de recorrência.
Há muitos fatores envolvidos na formação dos cálculos, dentre eles estão os hábitos alimentares e o estilo de vida que envolvem o ambiente em que o indivíduo está inserido. Talvez sejam os fatores de menor custo para intervenção na formação dos cálculos, já que dependem unicamente do policiamento do paciente em controlar sua dieta e manter hábitos de vida saudável.
De uma forma geral, o aumento da ingestão de líquidos, em especial a água, é o tratamento mais antigo para o cálculo renal, havendo recomendação de ingestão de líquidos suficientes para uma diurese de pelo menos 2 litros diários.Outro líquido recomendado é o suco de limão por apresentar em sua composição o citrato , que é um inibidor da cristalização e formação de cálculos. Deve-se reduzir a ingestão de sal e refrigerantes. Obs: Não se faz mais restrição de derivados do leite, pois poderemos facilitar a formação de cálculos de oxalato. Por último, o combate à obesidade e ao sedentarismo é fator importante no combate à formação de cálculos, pois sabe-se que estes fatores estão associados ao aumento na incidência de cálculos nas últimas décadas.